domingo, 27 de julho de 2008

Pedra sobre pedra


Pedra sobre pedra, numa constante de movimentos certeiros, constróem-se muros, barreiras, pilares, casas.
Pedra sobre pedra, numa união desconhecida, juntam-se forças, sentimentos e sentidos na construção de algo maior.
Podem ser pedras grosseiras, ásperas e afiadas que evitarão a passagem de qualquer um, que tão pouco será possível chutá-las para longe. Também podem ser pedras roliças, desgastadas pelo vento ou pela água, num tempo que não conseguímos vislumbrar, daquelas que pegamos e lançamos sobre a água num efeito saltitante.
Não são pedras que magoam, pois não se atiram, não se rasgam no corpo de alguém, mesmo que discretamente.
São pedras que guardam, que acolhem, que suportam e que marcam vários passos, várias vidas, de uma forma estranha e irregular.
Simbolizam, simplesmente, a construção de um império, o avançar, passo a passo, pedra após pedra, na direcção do que se quer.
Estas são as que nos acompanharam, que nos fizeram cair, que nos defenderam ou protegeram.
Contudo, não passam de pedras, rochas, um aglomerado de minerais tão antigos quanto a existencia da Terra.
Afinal, as coisas simples podem sempre tornar-se complexas se assim o quisermos.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Eu


Numa compreensão do que se perde,
Perco-me em explicações inúteis,
Em gestos fúteis,
Em olhares de raiva que morrem de sede.

Não compreendo porque se perde
O que era suposto manter-se,
Porque se ganha
O que era suposto ter-se.

Tenho mágoas e lágrimas guardadas
Num canto escondido do quarto,
Numa esquina vazia,
Algures, para lá do retrato
Perfeito
Que pinto todos os dias
Para toda a gente ver.

Perco-me em sorrisos que esboço a cada dia
Expostos em molduras de cristal.
Alegria,
Que mantenho num pedestal
Para toda a gente ver.

Numa compreensão do que sou
Descubro o que não sou
Aos olhos dos outros,
Conhecidos, desconhecidos.
Quem errou?
Fui eu por ser eu?

Numa compreensão do que se perde,
Encontro-me em definições tristes,
Em olhares reprovadores,
Em palavras que ninguém mede.

Quem perdeu?

Ganhei eu, a coragem de me ver
A vontade de ser
A força de querer.

Ganho por não ter pena.
Ganho por ser assim,
Eu mesma
Todos os dias.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Não sei... (como se dois olhares bastassem)


Quantas vezes nos deparamos com perguntas cuja única resposta que encontramos é "não sei"?
Quantos "sim" e "não" deixamos de dizer, apenas porque um "não sei" parece mais seguro?
Seguro ou mais fácil, mais fácil de dizer e de ouvir, mais supérfluo, mais vago, mais comum, mais eficaz, quem sabe.
Não sei. Não sei eu nem sabes tu porque tantas vezes quisemos e não tivemos, porque tantas vezes sentimos e não aceitámos… simplesmente porque não sabíamos.
E se soubéssemos seria diferente? Será que se houvesse uma certeza teríamos tudo aquilo que queríamos? Aceitaríamos o que sentimos? Não sei.
De todas as certezas que pensamos ter, muitas delas não passam de dúvidas envoltas num papel colorido de incertezas, com pegadas inseguras e laços de revolta. Um papel a que muitos chamam vida, a pegadas que seguem um imenso conjunto de desafios e uns laços frágeis que nos amarram ao passado, numa tentativa de enfeitar actos, caminhos, escolhas… numa tentativa de justificar tudo o que ainda hoje permanece lá, na caixinha de madeira poeirenta a que gosto de chamar passado.
Aquela caixa que, quando aberta, me traz memórias, cheiros, lugares, momentos, pessoas que, por muito tempo que passe, permanecerão ali, mesmo que sufocados em poeira deixada pelo tempo.
Basta-me saber que posso lá voltar sempre que quiser, abrir a pequena caixinha e deixar-me envolver, por curtos instantes, em tudo aquilo que ela guarda, na certeza de que foi tudo bem vivido, de alma e coração. Do lado de fora está outro grande baú à espera de um presente, passado e futuro. Um presente vivido, um passado construído e um futuro desejado, envolvidos mesmo que na poeira de toda uma vida que permanece intacta no tempo… mesmo que dissolvidos em lágrimas e repletos de sorrisos… mesmo que incompletos ou insignificantes por instantes…
Vale a pena, enfim, viver neste misto de sentimentos, sentidos e incertezas?
- Sim, vale.
- Não sei…

terça-feira, 8 de julho de 2008

Obrigada...


Obrigada a ti que me roubas as lágrimas nos momentos certos.

Obrigada a ti que sorris todas as manhãs para que os meus dias se iluminem.

Obrigada a ti que transformas em palavras o que a minha consciência ou o meu coração muitas vezes não querem ouvir.

Obrigada a ti que me conheces, me aceitas e me compreendes todos os dias.

Obrigada a ti que marcas com a diferença uma alma em tanta coisa igual.

Obrigada a ti que apareceste como se já pertencesses cá dentro.

Obrigada a ti que te transformaste no "sempre" que ainda guardo.

Obrigada a ti que me julgas sempre e me adoras de uma forma que não percebo.

Obrigada a todos os outros que marcaram e marcam uma vida por construir.

Porque hoje apenas precisava de agradecer a cada um de vós. Pelo que foram, pelo que são, pelo lugar que preenchem todos os dias, pelas saudades que me fazem sentir, pelo orgulho e pelas horas intermináveis de sorrisos e palavras que antes não sabia dizer.

Sem vocês nada faria sentido.

domingo, 6 de julho de 2008

O que os nossos olhos não vêem


Tapo olhos, ouvidos e boca. Escondendo sentimentos e sentidos num dia-a-dia que se confunde com as noites tantas vezes escuras, tantas vezes iluminadas por uma luz de presença contante, constantemente iluminando a presença de um alguém que não está presente.
Fecho os olhos para não ver a desgraça, a sujidade, a solidão ou a multidão. Esqueço as coisas boas que há para ver por não querer que as coisas feias se revelem e se contemplem para mim.
Tapo os ouvidos com medo dos sons, dos ruídos ensurdecedores que se passam lá fora. Esqueço o som de um bater certo de coração que antes apreciava ouvir, o som vibrante do mundo silencioso.
Calo-me para não soltar raivas e pânicos de que ninguém tem culpa. Evito transmitir verbalmente sons de palavras mal verbalizadas e tão bem sentidas. E esqueço todas as palavras transformadas em sentimentos que quero para mim, para ti.

Destapo olhos, ouvidos e boca. Assustada com singularidade de cada imagem, aliada a cada som. Palavras soltam-se numa harmonia inexplicável, ao mesmo tempo que a alma descontrola todo o corpo e solta emoções em forma de água salgada por uns olhos que antes se negavam a ver. Ouve-se uma voz amiga.
E tudo se acalma.

Mandy Moore - Gardenia


Mais uma música que vale apena ouvir... e sonhar.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Sê...



Agarra-te à vida com toda a força que tens.
Sente-te feliz por cada nascer do Sol.
Alegra-te com o desabruchar de uma flor.
Chora quando te sentires triste.
Pede aquilo que te faz falta.
Luta pelos teus sonhos.
Caminha numa estrada com cruzamentos e buracos.
Pensa em tudo o que a tua mente quiser.
Reage sempre que achares conveniente.
Fala quando achares que deves falar.
Procura tudo o que ainda não encontraste ou algum dia perdeste.
Sente saudade daquele amigo especial.
Dorme um sono de paz.
Abraça o mundo, as pessoas, os sonhos, as cores, a vida, o que sentes...

Acorda todos os dias com um sorriso. Simplesmente porque acordaste para mais um dia. Podia não ter sido assim, mas foi. Precisas de um motivo? Abre a janela e sente o ar fresco da manhã a bater-te no rosto, o Sol que já brilha nestes dias de Verão, o cheiro das flores ou do mar, vindos dali ou sabe-se lá de onde.

Acredita em cada amanhecer, em cada "bom dia!", em cada sorriso, em cada sentimento.

Vive. Poderá não haver outra oportunidade para o fazer.

Colbie Caillat and Jason Reeves - Droplets



"Cuz I'm walkin down this road alone and figured all I'm thinking bout is you, is you my love
My head is in a cloud of rain and the world it seems so far away and i'm just waiting for
The droplets, droplets
"