sexta-feira, 30 de abril de 2010

Esquecimento

O que faz com que nos consigamos esquecer de pessoas, acontecimentos, momentos, sonhos, vontades?
Que mecanismo se gera dentro de nós, que selecciona o que fica para ser recordado, o que não sai do nosso pensamento e o que desaparece quase completamente?

Não acredito que no meio de tal complexidade, quando tanto desconhecemos daquilo a que chamam "mente humana", alguma coisa realmente se esqueça. Alguém realmente seja esquecido. E é a memória que muitas vezes nos faz acreditar naquilo que somos capazes e que permite que sejamos honestos, connosco e com os outros, sobre... tudo!
Como nos tornámos no que somos hoje, as pessoas que contribuiram para a nossa construção pessoal, os momentos difíceis que nos fizeram mais ou menos resistentes, os sonhos por que lutámos e foram derrotados, aqueles que conseguimos alcançar. Tanta e tanta coisa que fazemos e somos não teria o mesmo sentido se simplesmente nos esquecessemos de tudo.
O que é certo é que dou por mim a não me lembrar das razões para estar aqui, para saber o que quero - até para querer o que quero. Acho que, no fundo, sempre tive muito medo de um dia me esquecer de algo verdadeiramente importante na minha vida. Por isso escrevo, guardo fotografias que acompanham épocas distintas, papéis e mais papéis que relatam conversas antigas, simples pedaços de algo, por vezes estranho, que em algum momento teve o seu sentido.
Tudo isto torna físico o que tenho medo que se apague da minha mente. Porque do mesmo modo que não controlo as memórias, também o tempo, a distância, a loucura e os devaneios não são por mim completamente manipuláveis.

Ainda assim...

Posso não me esquecer de ti.
Posso não me esquecer do que fui e do que sou.
Posso não me esquecer dos meus sonhos.
Posso até tentar esquecer tudo isto... mas jamais conseguirei apagar, suprimir, extinguir uma vida, com tudo de bom e de menos bom que a caracteriza.
Mesmo que fuja...

terça-feira, 27 de abril de 2010

Um excerto...

"Espera só um momento, deixa que o silêncio perpetue os nossos momentos de perfeição, a comunhão das nossas almas em noites passadas em claro, em conversas ligadas por um fio invisível, o fio do desejo, daquele desejo duradouro e certo que o tempo não mata, só ajuda a cimentar, que a distância não destrói, só ajuda a alimentar.
Espera só mais um instante, até que a tua memória quente cristalize os nossos momentos e os preserve como um tesouro secreto por mais ninguém descoberto e cobiçado. Guarda bem estes instantes, num lugar qualquer entre a tua cabeça e o teu coração, que deve ser mais ou menos onde se situa a alma e espera que o tempo te diga se o que sentes vai crescer e dar sentido à tua vida."

Margarida Rebelo Pinto

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Encontrarei

Alguma vez desejaste ter a paz
Sem saber onde a procurar, 
Onde a encontrar
E ainda assim ser capaz
De seguir sem olhar para trás?

Lembrar,
Uma e outra vez,
A vida que foi em tempos
Perfeita?

Qual perfeição esta dos tolos,
Que pensam ter a paz
E ser capaz
De lembrar.
Qual perfeição?

A minha.
Tola,
Que olha para trás e vê
A vida que teve, relembra,
Mas sonha e crê
Numa perfeição só sua.
Apenas minha.

Alguma vez sonhaste ter a paz
Na mão,
Debaixo dos pés,
No coração
E ainda assim ser capaz de recordar,
Acreditar 
E ser feliz?