segunda-feira, 10 de maio de 2010

Trapos

Movida pela raiva, pela dor, pela pena, tristeza, saudade, revolta e medo.
Fruto de devaneios perdidos e esquecidos de um "eu" que hoje não encontro senão em pinturas, em quadros pendurados num quarto velho e escuro.
Daí surgiram palavras escorridas, borradas e queimadas com sentimentos odiosos, pensamentos feios e tristes que debitei dia após dia porque era assim que me sentia. Um trapo, o resto de alguma coisa que julgava roubada, desaparecida ou perdida por aí. Um pedaço de nada que se arrastava na lama de Inverno e que, no Verão, ansiava por um raio de Sol que a fizesse acreditar na estrada que via à sua frente.

E hoje, onde vão esses tempos, essas letras que formaram palavras que foram deitadas aos sete ventos e que, agora, me fazem pensar no triste que fui? Onde está esta pessoa que antes sabia escrever a partir da raiva e que, agora, dificilmente consegue as palavras certas para libertar os seus pensamentos?
Parece-me o mesmo corpo, com contornos mais pesados, cores um pouco mais fortes. Espreitam os mesmos olhos, sentem as mesmas mãos, mas será o mesmo "eu"? Duvido...
De que serviria todo este bendito tempo, todos estes anos de loucura e de busca de sentidos se me mantivesse igual?

Hoje conta, hoje posso não conseguir escrever como antes porque já não me movo com o mesmo combustível, mas vale a pena assim. Vale como valeu antes, talvez mais.
Hoje consigo sentir-me melhor, desprezar o trapo que me fiz e bordar-me de flores e de cores que trazem até mim novos sonhos, desejos antigos e a esperança de um mundo que quero construir para mim.
Passo a passo.
Sozinha... ou talvez não.

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